Hospitalar
24/08/2018
A magia de um parto
Ontem recebi um registro muito bacana de uma paciente cujo parto eu ajudei há duas semanas. Todo nascimento é emocionante e cada um tem alguma singularidade que acabamos acumulando em nossos anos de prática obstétrica. A questão envolvendo este parto especifico é que o registro me mostra de camisa social, enquanto amparo a saída de um bebê em direção ao colo materno. Claro que foi uma situação inusitada e devida ao fato que eram
duas pacientes quase ganhando e um obstetra na casa…cheguei a tempo de ajudar uma enquanto o colega estava com a outra.
Atendendo na emergência muitas vezes passamos por situações difíceis, em que nos deparamos com pacientes ansiosas e assustadas, que merecem toda atenção, mesmo sem muito tempo para conversar como gostaríamos com
cada uma. Essa paciente não havia sido assistida por mim durante o pré-natal, mas a encontrei na emergência bastante apreensiva pois já havia passado o prazo para seu bebê nascer, as temidas 40 semanas. Nunca gostei da palavra prazo, sempre me lembra algo relativo ao imposto de renda, ou validade da carteira de motorista, ou ainda mais perigoso, o prazo de validade daquele leite deixado há duas semanas na geladeira. Todas situações remetem a algo que devemos nos antecipar, sob receio de ter que cumprir alguma pena, castigo, imposta pela lei ou mesmo pelo nosso intestino. Justamente por isso aboli a palavra prazo quando me refiro às 40 semanas, prefiro as palavras aposta, chute, probabilidade, etc… deixando para as 42 semanas o famigerado termo. Após cuidadoso exame físico e garantida a calma e segurança da paciente ainda brinquei que estaria no dia seguinte de plantão quem sabe ainda não iria fazer o seu parto.
E foi ela que eu atendi de camisa social, no momento final, após três horas em período expulsivo, com dor e desistindo do parto normal por total falta de forças…. pedi para avaliar mais uma vez antes de encaminhá-la para o centro cirúrgico e para minha surpresa estava bem mais perto do que eu imaginava. Pedi para tentar mais um pouco, sabia que ela estava no fim das forças, mas me comprometi a não sair dali até conseguir (dai o motivo da camisa também). Então após alguns minutos, que com certeza pareceram uma eternidade para ela, um vácuo extrator bem indicado, veio um bebezão de 4kgs, olhando pra cima (variedade de posição posterior, que muitas vezes dificulta o parto) e muito saudável que foi direto para o colo de sua mãe, onde o pai, que não fraquejou em um só momento, estava esperando para cortar o cordão umbilical… após parar de pulsar, é claro!
Estranho como entramos na vida das pessoas assim, ainda mais quando uma das meninas da enfermagem me contou que ela havia dito que havia sonhado que seria eu a ajudá-la na hora do seu parto… e assim foi, devidamente registrado em um momento mágico por uma das pessoas presentes, que assim como a doula e o pai, foram alicerce para que sua fortaleza não desmoronasse.
Sou muito agradecido por fazer parte desta equipe do Ilha Hospital e Maternidade há quase 10 anos e poder seguir com nosso trabalho para que ainda mais mães atinjam o objetivo de abraçar seu filho saudável após um nascimento cercado de cuidado e dedicação ímpares. Temos muitas coisas a melhorar, mas falo de coisas… nunca de pessoas.
Dr. Claudio Borba Canabarro CRM-SC 14371 RQE 8895 Médico Ginecologista e Obstetra |